A Universidade de Brasília, pensada por Darcy Ribeiro para contribuir na constituição de uma sociedade mais solidária, mais livre, mais humana, mais democrática, mais justa e mais rica, se tornou uma “organização social e
econômica, onde o ser humano passa a ser contabilizado monetariamente”. A afirmação é da professora Sônia Salles Carvalho, diretora da Diversidade da UnB, durante o segundo dia do XVIII Consintfub, realizado nesta quarta-feira (18), na Faculdade de Ciências da Saúde.
Segundo ela, hoje a UnB (e a maioria das universidades federais) é “um reflexo de uma sociedade individualista e está conjugada com um programa neoliberal, onde tudo passa a ser número e estatística”. “A universidade atual não tem espaço para a diversidade, é um sistema monolítico. Basta olhar os temas de investigação que os alunos trazem. Tem temas que, muitas vezes, não encontra nenhuma linha de pesquisa que o adote”, exemplifica.
Consequência do distanciamento de uma universidade que preze pelos valores sociais, dialoga a docente, está o abismo imposto entre a significância do professor e do técnico-administrativo. “A UnB tem uma relação entre
professores e servidores muito ruim, pior que as outro oito universidades que eu passei”, conta Sônia Carvalho.
Nascem dessa diferenciação baseada no modelo de opressão e oprimido os inúmero e recorrentes casos de assédio moral relatados por técnico-administrativos da UnB.
Para o professor Marcos Vinícius Soares Siqueira, da FACE/UnB, o assédio moral é intensificado por “uma crise de solidariedade muito grande vigente nos sistemas modernos”. “A gente olha só para o nosso próprio umbigo”, diz. Ele
explica que o assédio moral é toda postura de poder que coloque em xeque a saúde psicológica ou física de uma pessoa.
Além da relação de poder, o assédio moral também é causado por questões de raça, sexualidade, gênero, religião. Para a cientista política Dalila Noleto, isso pode ser justificado pela “construção do outro feita a partir de quem eu sou”. “Temos que penar no outro como ser completo, com direitos, sendo cidadãos, independente de qualquer coisa”, afirma.
De acordo com a professora Sônia Salles Carvalho, diretora da Diversidade da UnB, as atuais ações da UnB para manter o espaço universitário democrático são “insuficientes e têm carência de aplicabilidade e monitoramento”. “O impacto disso é o desencanto e adoecimento no trabalho, a perda de quadro de pessoal qualificado, o pouco engajamento coletivo para o bem comum, o aumento do índice de assédios e violências de toda ordem, a insegurança”, lista.
O tema é de necessário debate dos técnico-administrativos da UnB. Durante as falações feitas após as exposições dos palestrantes, os trabalhadores relataram várias experiências de assédio moral no ambiente de trabalho e o descontentamento com a política atual adotada para gerir a UnB, tornando-a, segundo eles, “um instrumento de opressão”.
O XVIII Consintfub começou nessa terça-feira (17) e termina nesta quinta-feira (19), com aprovação do Plano de Lutas que norteará as ações do Sintfub no próximo período.