O SINTFUB recebeu com indignação as notícias dos feminicídios contra Melissa Mazzarello de Carvalho Santos Gomes, de 41 anos, e contra Thais da Silva Campos, de 27 anos – assassinadas em 17 e 20 de junho, dentro de suas casas, por seus ex-companheiros.
Os dois criminosos chegaram a ser colegas de trabalho. Leandro Barros Soares confessou o assassinato de Melissa. Osmar de Sousa Silva foi filmado por câmeras de segurança atirando contra Thais. Ambos estão presos.
As duas vítimas entram agora para as estatísticas do Painel Interativo de Feminicídios do Distrito Federal, aberto pela Secretaria Distrital de Segurança Pública. No painel, que contabiliza dados de 2015 até os dias atuais, estão registrados 119 assassinatos contra mulheres por seus ex-companheiros.
Esse número altíssimo só foi alcançado por um fato quase invisível, do qual pouco se conversa e é pouco combatido na sociedade: o machismo estrutural.
A maioria dos homens veem as mulheres não como suas companheiras, mas como propriedades. Isso é um fato, mas falar desse fato ainda gera polêmica. A naturalização dessa relação simbólica, que hierarquiza papéis de gênero e atribui uma superioridade ao masculino sobre o feminino, é construída gradualmente em todas as esferas educativas e socializantes (família, escola, igreja etc), fabricando a situação do machismo estrutural – tão arraigada na sociedade brasileira quanto o racismo estrutural e a LGBTfobia estrutural.
Repare que os segmentos sociais que estamos citando (mulheres, negros e LGBTs) são justamente os que se encontram em maior vulnerabilidade e dependência econômica. Dados para comprovar isso não faltam, mas as políticas públicas para atender essas populações seguem subfinanciadas – algumas até em extinção.
60% das vítimas no Distrito Federal foram mortas por ciúmes ou separação. Esses dados se referem ao primeiro trimestre de 2021, quando foram registradas cinco mortes de mulheres motivadas por questões de gênero – número igual ao de 2020.
Segundo o Painel Interativo de Feminicídios do Distrito Federal, das 119 vítimas, 86 delas não registraram ocorrência contra o autor do crime e 76 já haviam sofrido violência antes de serem assassinadas. Esse medo de denunciar o agressor se dá por vários motivos, mas principalmente os da dependência financeira (mulheres que dependem do marido para prover as despesas domésticas; situação agravada pelo aumento do desemprego no país) e do constrangimento diante de amigos e familiares (construído pelo machismo estrutural).
Por mais que as famílias das vítimas busquem justiça e que os criminosos sejam presos por seus crimes, a vida das mulheres vítimas de feminicídios não retornam. Essas vítimas se transformam em ausências.
Para o SINTFUB, leis mais rigorosas para crimes contra as mulheres – como a Lei Maria da Penha – são necessárias. Punições exemplares para quem comete violência doméstica contra as mulheres são necessárias. Mas devemos combater o causa das mortes e das agressões às mulheres, não apenas os seus sintomas: devemos combater o machismo estrutural.
Esse combate precisa ser feito com políticas públicas bem financiadas, com a criação de uma rede de proteção social ampla e com o fomento de oportunidades para que as mulheres possam ter acesso a emprego, renda e dignidade. É um caminho longo, mas nos lutaremos para alcançá-lo.