No dia 26 de julho, aconteceu a cerimônia de outorga do título post mortem de geólogo a Honestino Guimarães, no auditório da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB). A decisão foi do Conselho Universitário (Consuni) da UnB que anulou, no dia 7 de junho deste ano, a decisão que havia desligado Honestino da instituição e aprovou, por aclamação, a concessão do diploma.
Honestino Guimarães, que dá nome ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB, foi estudante de geologia e um dos principais representantes da resistência à Ditadura Militar de 1964 e seus desmandos na Universidade de Brasília. Com o endurecimento do regime em 1968, Honestino foi expulso e impedido de concluir a graduação em Geologia. Isso não o impediu de continuar no movimento, passando por perseguição, prisões e torturas, se tornando um dos desaparecidos políticos da ditadura, em 1973.
A cerimônia contou com a presença de professores, estudantes e representantes do movimento estudantil e de desaparecidos políticos, parlamentares, familiares de Honestino e autoridades locais e nacionais.
“Reconhecimento tardio”
Nascido em 28 de março de 1947, em Itaberaí (GO), Honestino Guimarães foi aprovado em primeiro lugar no vestibular para Geologia na UnB, em 1965. Em 1968 foi eleito presidente da Federação dos Estudantes da UnB (hoje DCE). Ano em que a Universidade sofre a terceira invasão por parte dos militares (1964, 1965, 1968 e a última em 1977) e é expulso. Entre 1968 e 1973, Honestino viveu na clandestinidade em meio à escalada da repressão e perseguição aos opositores. Em 1971 assumiu a presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE) e, em outubro de 1973, aos 26 anos, foi sequestrado e preso pela CENIMAR (Centro de Informações da Marinha), no Rio de Janeiro. Depois disso desapareceu. Apenas em março de 1996 sua família recebeu uma certidão de óbito, sem a causa da morte. O corpo nunca foi encontrado.
Para o primo de Honestino, Sebastião Lopes Neto, que recebeu o título das mãos da reitora da universidade Márcia Abrahão, “foi uma homenagem importante, mas tardia”, considerando que o líder estudantil está desaparecido há mais de 50 anos.

Foto: Vinicius Schmidt/Metrópoles
“É um reconhecimento tardio, é uma pequena reparação diante de tantos camponeses e vidas desaparecidas”, disse Lopes Neto. “Nossa família foi massacrada e a perda dele é irreparável. Achamos que a homenagem aconteceu tarde, mas que sirva de lição para outras universidades do país seguirem o mesmo caminho. A comissão da anistia deve criar parâmetros para recuperar a história desses estudantes desaparecidos, muitos deles durante a ditadura. É um momento simbólico”, salientou ao Correio Braziliense.
Honestino vive!
O coordenador-geral do SINTFUB, Edmilson Rodrigues de Lima, destacou que “é mais do que justo o reconhecimento pela Universidade de Brasília, através da decisão do Consuni e seu corpo técnico-administrativo, professores e estudantes, na atualidade. Homenagem importante a uma pessoa que dedicou sua vida à defesa da democracia, da justiça social, e pelos direitos da classe trabalhadora. Honestino vive e está representado na luta que continuamos hoje na UnB e em nossa sociedade”.
O ex-reitor da universidade José Geraldo de Souza Júnior fez o discurso de apresentação do outorgado. “A concessão do diploma não é só uma celebração. É um ato de justiça, de reparação”, disse, em referência às análises que foram feitas do processo acadêmico. O ato passa “uma inequívoca mensagem à sociedade, para deixar explícito o compromisso da UnB com a justiça, a democracia e a história, a despeito dos que insistem em contestar os fatos de um período sombrio no nosso país, um negacionismo que precisa ser combatido com todas forças, sobretudo em respeito a cada vítima direta ou indireta da ditadura”, destacou.
Documento aprovado no Consuni
O parecer em favor do título post mortem aprovado pelo Consuni em 7 de junho aponta que “Honestino Guimarães foi um notável líder estudantil cuja trajetória se entrelaça profundamente com a história da Universidade de Brasília e a luta contra a ditadura militar.” E que “o simbolismo desse ato transcende esses aspectos mais diretamente relacionados ao próprio Honestino para compor uma inequívoca mensagem da instituição a toda a sociedade, deixando explícito o compromisso da UnB com a justiça, a democracia e a história, a despeito daqueles que insistem em contestar os fatos de inúmeras formas testemunhados de um período sombrio no nosso país, um negacionismo que precisa ser combatido com todas as forças, sobretudo em respeito a cada vítima, direta ou indireta, da ditadura, a cada mãe que sofre a perda prematura de um filho ou a eterna angústia de seu desaparecimento, a cada pessoa torturada por insistir em fazer valer seu direito de ser livre para discordar” (clique aqui para ler o documento na íntegra).
É a primeira vez que a Universidade de Brasília concedeu um diploma póstumo a algum estudante.