O Ministério da Educação ignorou os pedidos de adiamento e abriu as inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, nesta segunda-feira (11). Os candidatos devem fazer o cadastro no site oficial da prova até o próximo dia 22. A taxa de inscrição custa R$ 85.
A decisão de manter o Enem durante a pandemia do novo coronavírus foi criticada por especialistas e entidades estudantis. A avaliação geral é que o MEC não está considerando a gravidade do cenário de isolamento social, que deixou alunos fora da rotina de ensino.
Daniel Cara, doutor em Educação e coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, criticou a medida do governo federal. “Estudantes que não têm condições de estudar precisarão ter ainda mais força mental para se inscrever. É a lógica do bolsonarismo: beneficiar os privilegiados“, publicou nas redes sociais.
A vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Élida Elaine, afirma que o ministro Abraham Weintraub quer excluir a população de baixa renda do ensino ensino superior. “Ele não está preocupado que os estudantes mais pobres acessem a universidade, por isso defendemos o adiamento das provas, para debatermos com as secretarias estaduais um plano de organização do calendário, levando em conta os limites pedagógicos”, afirmou.
“Diferente do que diz o ministro, é absurdo pensar que os estudantes estão em igualdade de condições nessa situação, e que atividades a distância poderiam solucionar o problema da suspensão das aulas. Muitos desses jovens sequer têm acesso às ferramentas necessárias para atividades virtuais, e mesmo que tivessem sabemos que o aproveitamento do ensino-aprendizagem fica fortemente em defasagem em relação às atividades presenciais”, diz a nota da UNE, assinada em conjunto com a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).
“Inovações”
Neste ano, as provas serão divididas em duas modalidades. As presenciais, que serão aplicadas nos dias 1º e 8 de novembro, enquanto a primeira aplicação da versão digital será nos dias 22 e 29 do mesmo mês.
Apesar de versões diferentes, a estrutura dos dois exames será a mesma, afirma o ministério: quatro provas objetivas, constituídas por 45 questões cada, e uma redação em língua portuguesa. O participante também deverá selecionar uma opção de língua estrangeira – inglês ou espanhol –, durante o processo de inscrição.
Na semana passada, foi lançado o portal Adia, Enem, que busca recolher assinaturas para o adiamento da prova. Segundo as entidades, a ação é para que “nenhum estudante tenha seu ingresso na universidade prejudicado pela crise do covid-19 e pelo MEC”.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou ainda que todos os participantes que se enquadrarem nos perfis especificados nos editais, mesmo sem o pedido formal, terão isenção da taxa.
Tramitam no Congresso projetos que preveem o adiamento das provas, como dos senadores Humberto Costa (PT-PE) e Daniella Ribeiro (PP-PB). Na Câmara dos Deputados, foi protocolado o Projeto de Decreto Legislativo nº 167/2020, que suspende o edital da prova de 2020. Parlamentares de ambas as casas pressionam para que o tema entre na pauta legislativa.