Na noite dessa segunda-feira (21/3), a servidora Rossana Oliveira Borges, que atua há 20 anos no Hospital Universitário de Brasília, sentiu fortes dores, febre e se deparou com manchas vermelhas por todo corpo – sintomas que indicam doenças como dengue, chikungunya e a zika, que podem ser fatais. Como estava de plantão, ela se dirigiu ao Pronto Socorro do HUB para receber atendimento. A surpresa foi quando a enfermeira do setor, a mando da médica de plantão, alegou que Rossana não seria atendida e que uma circular assinada pelo superintende do HUB, Hervaldo Sampaio, respaldava a decisão.
“Fui ao Pronto Socorro do HUB, mas a enfermeira, que fez de tudo para me ajudar, disse que a médica de plantão estava na sala de repouso e afirmou que uma circular do hospital não permitia que ela me atendesse. Me senti revoltada. Estou em um hospital onde eu trabalho duro e sou tratada assim. Você se sente péssima, desmotivada. Por mim eu até sairia de lá. Antes da Ebserh entrar, eu já precisei do serviço do HUB e fui prontamente atendida. Agora, depois que a empresa entrou, é desse jeito. Como não estava aguentado de dor, tive que procurar socorro em outro hospital”, relata Rossana Borges. A circular a qual a servidora se refere é a de número 025, de 18 de novembro de 2015. O documento afirma que “o atendimento dos colaboradores do Hospital Universitário de Brasília pela Unidade Pacientes Críticos é exclusivo para quem estiver em horário de trabalho, com encaminhamento da chefia imediata”. Ou seja, por pior que fosse o caso de Rossana e mesmo que sua vida estivesse em risco, ela dependeria do aval da chefia imediata para ser atendida e medicada no HUB, seu próprio local de trabalho.
É importante lembrar que o superintendente do HUB, Hervaldo Sampaio, é servidor cedido à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e, portanto, segue as ordens da empresa que gere o hospital. Para o Sintfub, a circular apresenta claramente as intenções da Ebserh, através de uma política de saúde totalmente distinta da adotada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que prega o pronto atendimento a qualquer cidadão que necessitar do serviço.
O Sintfub ainda lamenta que o HUB tenha se submetido a tal desmando imposto pela Ebserh, e avalia que ações como essas, que colocam em risco a vida de um servidor (ou de qualquer cidadão), destoam completamente da missão do HUB e de sua história enquanto hospital público. Mais que isso: viabiliza e naturaliza a omissão de socorro, crime previsto no Código Penal brasileiro.
Desde que foi anunciada a gestão do HUB pela Ebserh, em 2013, os servidores técnico-administrativos dos hospitais universitários de todo o Brasil, inclusive os do HUB, alertam para os riscos iminentes trazidos pela empresa. E durante esses três anos, tais problemas se materializam numa crescente.
O Sintfub repudia a irresponsabilidade da Ebserh, bem como da superintendência do HUB e da médica que se recusou a atender a servidora do HUB. Não aceitamos que um hospital público seja refém de políticas nefastas que visem ao lucro em detrimento da qualidade do serviço e de sua missão.
Ainda informamos que as ações jurídicas serão tomadas o quanto antes para que aqueles que cometeram ou viabilizaram a omissão de socorro de Rossana Borges sejam responsabilizados.
Diretoria Executiva do Sintfub