A concepção de serviço público continua obtusa para grande parte da sociedade. Há os que acreditam que nós, servidores, somos uma categoria totalmente à parte da classe trabalhadora: não temos que cumprir jornada de trabalho, temos salário exacerbado, não desenvolvemos nossas tarefas, já que temos estabilidade empregatícia. Há inclusive aqueles que nos categorizam como “marajás”. Os pré-conceitos são reforçados pela mídia comercial, que insiste em fazer espetáculo da especulação generalizada ao invés de prestar um serviço de interesse público.
Mas paremos um pouco para pensar fora dos eixos do que determinam as 11 famílias que detêm os principais meios de comunicação do Brasil. Que existem posturas a serem corrigidas entre os servidores públicos, é fato. Assim como em qualquer lugar, do bar ao templo religioso. O que nos apegaremos aqui é na relevância do serviço e dos servidores públicos para a sociedade. Somos nós, os servidores, que levamos aos cidadãos, independente de classe social, direitos fundamentais, como saúde, educação, segurança. Somos nós também que possibilitamos a implementação de políticas sociais e, consequentemente, ajudamos a transformar o Brasil em um país mais justo e igualitário. Mas então por que somos hostilizados?
Por mais que o curso político do país tenha mudado – ainda que o retorno a pautas neoliberais seja cada vez mais evidente –, vivemos uma sociedade fundada em pilares capitalistas. Principalmente a partir da década de 1990, com o governo Fernando Henrique Cardoso, o país sofreu um processo exaustivo de privatização, diminuição do papel do Estado em relação ao bem estar da população, deterioração dos serviços, fragmentação de categorias de trabalhadores, conceito maior de meritocracia. Ao mesmo tempo, o sucateamento e o desprestígio do serviço público foram amplamente realizados, claro, com o apoio da mídia, que é espaço central de formação de valores da opinião pública.
Tudo isso reflete na atual concepção deturpada da sociedade sobre serviço público, questões que também podem justificar a indignação dos cidadãos frente às greves e mobilizações do funcionalismo. Entretanto, estão ainda no anonimato questões essenciais. Por exemplo: em pleno século XXI, somos a única categoria que não tem direito à negociação coletiva. Isso quer dizer que não há previsão em lei que obrigue o governo a discutir com os servidores a concessão de melhores salários, novos direitos e condições de vida e de trabalho apropriadas. São questões que refletem na qualidade do serviço oferecido à população e na formulação de políticas públicas.
Também estão no serviço público quadros de desigualdade que acabam gerando insatisfação e revolta entre categorias do funcionalismo. Enquanto servidores de certo setor ganham R$ 800 de auxílio alimentação, outros ganham praticamente a metade desse valor. O assédio moral também é constante e, apesar da estabilidade empregatícia, a opção por deixar o funcionalismo por ser vítima dessa prática, é uma realidade.
Esses são alguns dos motivos que mobilizam milhares de trabalhadores nas ruas. A exemplo dos servidores técnico-administrativos em educação das universidades federais, que deram uma lição de luta e resistência frente à intransigência do governo federal. Foram praticamente cinco meses em greve, com realização de acampamento nacional, ocupações, marchas e várias outras demonstrações de luta.
É importante que continuemos com essa disposição de luta para enfrentarmos com propriedade aqueles que nos deslegitimam. É essencial que mantenhamos firme o nosso ideal de valorização profissional e a disposição para construir um Brasil mais justo e igualitário, o que só acontecerá quando cada cidadão e cada cidadã puder desfrutar de um serviço público pleno, de qualidade e totalmente valorizado.
Direção do Sintfub