Homenagem aos aposentados do trabalho, mas não da luta

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É comum que se associe a imagem de idosos à utilização de bengalas, costas curvadas e à condição de inabilidade. De acordo com a vice-coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Terceira Idade da Universidade de Brasília (Nepti), Keila Cristina da Cruz, essa relação entre a velhice e uma condição precária de vida, física ou psicológica é uma convenção equivocada. Ela tratou esse tema na palestra “Saúde, Lazer, Vida Saudável na Terceira Idade”, ministrada nesta quarta-feira (3), na quadra da escola de samba Acadêmicos da Asa Norte, durante homenagem da CUT Brasília ao Dia dos Aposentados (24/1). O evento foi marcado por servidores técnico-administrativos da UnB.

De acordo com Keila da Cruz, o Ministério da Saúde ressalta duas estratégias essenciais para viver de forma saudável a partir dos 60 anos: alimentação sadia e atividade física. Para uma boa alimentação, a pasta orienta que, diariamente, se faça pelo menos três refeições, evite refrigerantes e sucos industrializados, utilize pouco sal na comida, ingira pelo menos 2 litros de água, coma pelo menos três porções de frutas e legumes. “Entretanto, devemos nos adaptar aos nossos costumes. É preciso ter bom senso. Não se pode mudar radicalmente de vida se isso não nos prejudica”, avalia a vice-coordenadora do Nepti.

Já as atividades físicas, como caminhada, natação, dança, bicicleta, são importantes para reduzir o risco de doenças cardiovasculares, melhorar a postura e o equilíbrio, qualificar o perfil lipídico, reduzir quadros de dor e aumentar a qualidade do sono. Elas devem ser praticadas diariamente, pelo menos por 10 minutos.

Keila da Cruz alerta que é normal que o envelhecimento traga algumas perdas físicas, “mas temos que ficar atentos e não achar que tudo é normal”. Ela afirma que perda moderada da visão e da audição são questões mais comuns, mas podem ser acompanhadas e contidas. Já problemas como incontinência urinária, registrado em grande número em pessoas que têm 60 anos ou mais, “não é normal, caso não haja uma doença associada”. “A promoção do envelhecimento ativo é envelhecer mantendo a capacidade funcional e a autonomia”, destaca.

A especialista em gerontologia destacou durante a palestra que os casos de doenças sexualmente transmitidas entre pessoas idosas vêm aumentando. “Esse número aumenta por vários motivos, mas o principal deles é a falta de prevenção. Não é porque estamos idosos que temos que parar de nos cuidar. Responsabilidade é a palavra certa”, destaca.

Qualidade de vida
Na exposição, Keila da Cruz apresentou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o tempo estimado de vida das pessoas no Brasil e no mundo. De acordo com os números mostrados, até duas décadas atrás, “o Brasil não era um país velho” (em 2015, a estimativa de vida era de 75 anos; na década de 1940, a idade de vida estimada das pessoas era de 45 anos). Este processo aconteceu em 20 anos e, por ser recente, atrapalhou o planejamento de ações políticas e culturais para idosos. Já em países como o Japão, o tempo para que a população fosse considerada idosa foi de, aproximadamente, cem anos (a expectativa de vida neste país é de 83 anos). “Temos uma legislação direcionada ao idoso impecável no papel, mas que não funciona na prática”, diz.

Apesar de a configuração da sociedade ter mudado em pouco tempo, no que tange à idade, a vice-coordenadora do Nepti afirma que “ter qualidade de vida depende muito de cada um de nós”. Ela orienta que, principalmente a partir dos 60 anos, a pessoas devem intensificar as atividades que trazem prazer. “Qualidade de vida é um indicador de vida. Isso pode, por exemplo, ajudar na recuperação de uma doença. Em uma pesquisa que fizemos, os idosos relacionaram qualidade de vida a amor, amizade, independência, cabeça funcionando bem, dinheiro, espiritualidade”, relata.

A homenagem da CUT Brasília aos aposentados ainda contou com samba, comandada pelo intérprete e compositor, Renato dos Anjos, e feijoada. Mais de 150 aposentad@s de várias categorias compareceram à confraternização.

Inativo é quem não luta
Na abertura da homenagem ao Dia dos Aposentados (24/1), promovido pela CUT Brasília, o presidente da Central, Rodrigo Britto, lembrou que os trabalhadores aposentados, frequentemente, são alvo de tentativas de retiradas de direitos, mas, ao mesmo tempo, são inspiração para a luta de classe. “A partir da experiência de vocês, temos certeza que vamos avançar nas nossas lutas”, declarou.

Para o coordenador geral do sindicado dos trabalhadores técnico-administrativos da Universidade de Brasília – Sintfub, Mauro Mendes, que também participou da mesa de abertura da homenagem aos aposentados, “deve ser compromisso de todos e todas dar continuidade à luta dessa categoria”. “Tudo que temos é fruto da luta dos aposentados. São conquistas feitas a partir de enfrentamentos muito maiores que os nossos, devido a governos muito mais rígidos do que temos hoje. Eles enfrentaram a ditadura. Eles nos ensinaram a fazer a luta”, avalia.

A coordenadora da pasta de Assuntos dos Aposentados do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro), Silvia Canabrava, afirmou: “Apesar de estarmos aposentados, a luta não para aqui. Temos que continuar, marcar presença em todas as atividades das nossas entidades sindicais. Sem luta não há vitória. Para mantermos nossos direitos, temos que permanecer na luta”.

Emocionada, Silvia ainda lembrou a história de Isabel Portuguez, dirigente aposentada do Sinpro-DF que faleceu no final de 2015. “Quem deveria estar aqui era Isabel”, disse, atribuindo à importância da dirigente na construção de luta dos professores.

“Isabel mostrou que não há momento para parar”, completou Rosilene Corrêa, uma das coordenadoras do Sinpro-DF. Ela alertou: “Todos que aqui estão têm uma história de luta, e estando aqui comprovam que não querem interromper essa história. Não é porque eu me aposento que eu deixo de ter responsabilidade para construir um país e um mundo melhor”.

Em homenagem à Isabel Portuguez, o Sinpro-DF veiculou durante o evento em homenagem aos aposentados um vídeo que mostra um pouco da trajetória da dirigente sindical. Ela ingressou na carreira do Magistério em 1969. E desde muito cedo iniciou militância em prol dos colegas de magistério e da classe trabalhadora. Baiana, Isabel iniciou sua carreira de professora lecionando em escolas da zona rural. A partir de 1979, a história de Isabel se entrelaça com a história de um dos mais importantes sindicatos do Brasil, o Sinpro-DF. Filiou-se à entidade no mesmo ano de sua fundação. Durante mais de 36 anos, Isabel contribuiu para a construção e a consolidação do sindicato. Em 1991, Isabel se aposentou encerrando a carreira como diretora da Escola Classse 409 Norte. Desde então, a valorosa companheira se engajou ainda mais no Sinpro-DF, liderando o segmento dos aposentados e chegando a participar da diretoria por 15 anos ininterruptos.

Fonte: CUT Brasília / Foto: Alen Mesa

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