Sete dias de ocupação, completados nesta quarta-feira (4), e nenhuma resposta positiva do GDF. Ao contrário, os estudantes que desde o dia 28 pernoitam na sede da ouvidoria do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), na Rodoviária do Plano Piloto, sofrem a todo momento intimidações da polícia militar (a mando do governo) e retaliações, como o corte de energia, feito no último domingo (1º/5). Eles exigem condições que viabilizem o direito pleno ao passe livre no transporte coletivo, garantido em lei.
“Há vários estudantes da UnB neste movimento, assim como de outras universidades e escolas. O Sintfub dá todo o apoio à estudantada que está dando um exemplo do que é lutar pelos direitos garantidos. Faremos o possível para auxiliar na solução deste problema”, afirma o coordenador geral do Sintfub, Mauro Mendes.
Na manhã desta quarta-feira, o secretário de Mobilidade do DF, Marcos de Alencar Dantas, foi ao local, sem aviso prévio. “Esse foi o primeiro diálogo efetivo com o governo do DF. Antes eles mandavam pessoas que não podiam encaminhar nossa demanda. Mas a reunião continuou no plano explicativo. Eles não cedem em nada, não fazem nenhuma proposta. Ele chegou a dizer até que, se a gente desocupasse, eles poderiam tentar marcar uma reunião. Mas sem o atendimento do que a gente quer, a gente não sai”, afirma um estudante que participa da ocupação, mas prefere não informar o nome por medo de retaliação.
A ocupação foi resultado de problemas na nova plataforma desenvolvida pelo GDF para cadastro e recadastro dos cartões estudante, criada há cerda dois meses. “A gente só pode fazer isso pela internet. Tem gente que não tem internet, nem nas escolas. Aliás, tem escola que não tem nem carteira, diga lá internet. Eles ainda definiram que o cadastro ou recadastro tem período específico. Isso é horrível, pois os calendários das escolas variam devido greves, questões internas. O passe livre também é de direito de estagiários, e não existe um período fechado para se fazer contrato de estágio. Sem falar que aqueles que não têm cartão e não fizeram o cadastro no período estabelecido, quando precisa, não têm como ter acesso ao passe livre”, denuncia a estudante Débora Mynssen.
Na pauta dos estudantes estão a disponibilidade de postos físicos e período indeterminado para cadastros e recadastros dos cartões estudante, linhas de ônibus irrestritas e a liberação das catracas aos estudantes que ainda não possuem o cartão.
Saída na marra
Sem qualquer tentativa de negociação, o DFTrans requereu na Justiça a reintegração de posse da ouvidoria do órgão, onde é realizada a ocupação dos estudantes. O pedido foi feito no domingo (1º/5), a um juiz de plantão, que não viu urgência no caso e decidiu que a solicitação fosse feita normalmente, em dia útil. Nessa segunda-feira (2/5), o Tribunal de Justiça do DF determinou a saída imediata dos estudantes e a devolução do espaço ao DFTrans. Entretanto, de acordo com os estudantes que reivindicam a integralidade do direito ao passe livre, a determinação da Justiça não foi entregue aos manifestantes.
Nessa terça-feira (3/5), um agravo feito por advogados ligados ao Movimento Passe Livre e à UnB foi protocolado no Tribunal de Justiça do DF e Territórios, com o objetivo de garantir a permanência dos estudantes no espaço.
Covardia
“No sábado (30/4), a polícia fez cerco aqui na frente (do DFTrans), retiveram os estudantes lá dentro e jogaram gás de pimenta. Uma pessoa teve que ser atendida pelo Samu”, conta com indignação a estudante Débora Mynssen.
Segundo ela, outras ações de intimidação vêm sendo feita, como a apreensão de cartazes, panfletos e outros materiais utilizados pelos manifestantes. “Outro dia, uma estudante estava descendo pra cá com uns 500 panfletos. Aí, a polícia parou ela, porque reconheceu o rosto dela, e pegou todo o material. Outra estudante que está aqui com a gente, contou que tem um vizinho que é policial e que a ameaçou por ela estar ocupando aqui”, denuncia Débora e afirma que esse tipo de coerção impulsiona os estudantes a não quererem mostrar o rosto ou falar seus nomes.
Formação e luta
Diariamente, os estudantes que promovem a ocupação do DFTrans realizam atos, aulões e outras ações que dão força ao movimento.
Na manhã desta quarta-feira (4), a professora de Serviço Social da UnB, Marina Leite, discutiu com os estudantes sobre “Passe livre e perda de direitos”.
Também nesta quarta-feira, os estudantes fizeram o abaixo-assinado para receber o apoio da população à manifestação. Até as 16h30, quase 300 assinaturas já haviam sido coletadas.
Doações
Os estudantes que realizam a ocupação no DFTrans da Rodoviária do Plano Piloto precisam de doações de alimentos de de água para consumo. Quem quiser colaborar, pode deixar os donativos no local.
As ações dos estudantes durante a ocupação do DFTrans estão sendo veiculadas pela página Estudantes Sem Catraca, no Facebook. (inserir o link https://www.facebook.com/EstudantesSemCatraca/?fref=ts)
Fotos: Heitor Lopes