Análise do Sintfub sobre entrevista do reitor Ivan Camargo ao Correio Braziliense

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Certamente o reitor da UnB, Ivan Camargo – que é engenheiro especialista na questão energética –, tem propriedade para falar sobre o impacto que um simples botão de ligar e desligar tem nos reservatórios de energia do Brasil, como afirmou matéria publicada no jornal Correio Braziliense no último domingo (27). Entretanto, quando o assunto é uma gestão democrática da Universidade, voltada para a valorização dos servidores e para a qualidade de serviço à comunidade universitária, a análise não é a mesma.

Atado à necessidade de privatizar como solução dos problemas no serviço público, Ivan Camargo mostra que opta por uma gestão conservadora, onde o trabalhador é apenas um meio de produção, um ser desumanizado, desprovido da condição de lutar pelo aprimoramento de direitos. A conclusão não parte de meras suposições, mas da fala do próprio gestor máximo da UnB.

Na entrevista cedida ao Correio Braziliense, Ivan Camargo aponta a criação da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) como saída para os entraves nos Hospitais Universitários. Esta é a mesma empresa que vem acumulando aos montes queixas de assédio moral, de desvalorização dos servidores de carreira, de desumanização do atendimento em nome de um suposto “aumento de produção”.

Ele também confessa que a estratégia adotada pela administração superior da UnB para contornar o corte na Educação – anunciado pelo governo federal – é a demissão de terceirizados. Para Ivan Camargo, não há outra forma de balancear orçamento e gastos.

O reitor da UnB também ataca a luta dos trabalhadores e trabalhadoras técnico/a-administrativos/as em educação pela jornada de trabalho de 30 horas semanais. Ele afirma: “Na atual situação do Brasil, colocar na pauta de reivindicações que quer trabalhar 30 horas semanais e sem ponto me parece uma coisa de outro mundo”.

Diversas pesquisas já comprovaram que a jornada de 30 horas nas universidades gera melhorias à comunidade universitária, uma vez que mais qualidade de vida para os servidores repercute em um trabalho com ainda mais afinco e dedicação. Entretanto, o mais intrigante é que um dos principais pontos que nortearam a campanha de Ivan Camargo quando o professor era apenas um candidato a reitor da UnB, foi a jornada de 30 horas (pasme). E, certamente, foi a partir deste compromisso que Camargo ganhou o voto de centenas de técnico/a-administrativos/as.

Diante disso, pode-se questionar: Que “outro mundo” é este que Ivan Camargo comenta? Se for um mundo que traga melhorias aos diversos interessados, então falamos de um mundo ideal, certo? Ou seria um mundo possível apenas em época de eleição?

Aos moldes militares
Na entrevista reveladora de Ivan Camargo, o reitor também torna explícita sua avaliação sobre o movimento grevista. “O decanato está sem pessoal por causa da greve”; “A greve atrapalha muito o funcionamento da UnB”; “A sensação que tenho é de que há cerca de 20 pessoas no comando de greve e elas não conseguem mobilizar ninguém para a causa”. São essas algumas falas do reitor sobre o movimento grevista e os líderes sindicais.

Não há dúvida de que o pragmatismo trazido pelo filho de militar vai na contramão da organização de classe e do fortalecimento dessas organizações; da validação da luta por conquistas e direitos trabalhistas por meio de entidades sindicais; do diálogo horizontal entre “patrão” e trabalhador.

Sem rodeios, Ivan Camargo deslegitimou a organização dos servidores e servidoras técnico/a-administrativos/as da UnB, reduzindo-os e convertendo-os a oportunistas. O grupo de 20 pessoas a que se refere o reitor, conduziu, com grandeza e compromisso, cerca de 120 duros dias de greve, que se afastava cada vez mais do fim com a quebra dos compromissos feitos pela reitoria da UnB.

É fato que a mobilização dos trabalhadores é tarefa difícil, não só na UnB, mas em todos os setores de trabalho, principalmente nos ambientes em que as chefias ameaçam retirar o cargo comissionado dos trabalhadores que aderirem à greve. Aliás, essa é uma realidade da UnB, confirmada pelo próprio reitor quando ele afirma: “(…) Todos que têm cargo comissionado estão trabalhando (durante a greve)”.

O Sintfub lamenta o pronunciamento do reitor da UnB, Ivan Camargo, e solicita que o gestor máximo de uma das mais importantes universidades do Brasil reveja os pontos apresentados durante a campanha para reitor. Repudiamos ainda o ataque de Camargo à organização sindical, essencial para conquistar um mundo mais justo e igualitário para todos e todas.

Esperamos que os ventos ditatoriais, respirados à custa de morte e tortura por anos, nunca mais volte à UnB.

Acesse a entrevista de Ivan Camargo aqui

admin

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